Eu pego na minha viola
E canto assim
Esta vida
A correr
Eu sei que é pouco e não consola
Nem cozido à portuguesa há sequer
Quem canta sempre se levanta
Calados é que podemos cair
Com o vinho molha-se a garganta
Se a lua nova está para subir
Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir
Eu sei de histórias verdadeiras
Umas belas
Outras tristes de assombrar
Do marinheiro morto em terra
Em luta por melhor vida no mar
Da velha criada despedida
Que enlouqueceu e se pôs a cantar
E do trapeiro da avenida
Mal dormido se pôs a ouvir
Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir
Sei de vitórias e derrotas
Nesta luta que se há-de vencer
Se quem trabalha não esgosta
No seu salário sempre a descer
Olha a polícia
Olha o talher
Olha o preço da vida a subir
Mas quem mal faz
Por mal espere
Se o tirano fez a festa
P'ra fugir
Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir
Mas esse tempo que há-de vir
Não se espera como a noite
Espera o dia
Nasce da força que transpira
De braços e pernas em harmonia
Já basta tanta desgraça
Que a gente tem no peito
A cair
Não é do povo
Nem da raça
Mas do modo como vês o porvir
Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir
Depois de receber a taça Museu FC Porto acolhe Jorge Palma esta quinta-feira
Esta quinta-feira, dia 17, pelas 21h30, Jorge Palma vem ao Dar Letra à Música, no Museu Futebol Clube do Porto.
Jorge Palma abre o livro da vida e das canções no ambiente intimista do “Dar Letra à Música”. A estreia do compositor, poeta e cantor no palco do Museu FC Porto faz regressar ao universo azul e branco um dos maiores nomes de sempre da música e do espectáculo nacionais, depois da atuação, em 2014, na gala dos Dragões de Ouro, onde, sozinho, ao piano, interpretou “Frágil”, “Bairro do amor” e “Dá-me lume”.
Autor de discos de ouro e platina, premiado com importantes galardões, membro e colaborador em vários projetos coletivos, Palma vive com a música desde criança. Cresceu ao piano, mas foi de guitarra na mão que se fez à estrada, em Portugal e na Europa, construindo uma carreira a solo que também marca a história da música portuguesa com temas como “Deixa-me rir” ou “Encosta-te a mim”. Jorge Palma é um grande desafio para a habitual dupla de apresentadores (e provocadores…) das noites de conversa e humor do “Dar Letra à Música”. Oevento é uma organização do Museu FC Porto, em parceria com a Associação Sótão Paralelo (“Conta-me Histórias”), sujeito à lotação da sala.
Valsa dum homem carente
Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigo
e apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo
Se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o seu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor
É a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
Acorda, menina linda Vem oferecer O teu sorriso ao dia Que acabou de nascer Anda ver que lindo presente A aurora trouxe para te prendar Uma coroa de brilhantes para iluminar O teu cabelo revolto como o mar
Acorda, menina linda Anda brincar Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar Acorda, menina linda Vem oferecer O teu sorriso ao dia Que acabou de nascer
Porque terras de sonho andaste Que Mundo te recebeu Que monstro te meteu medo Que anjo te protegeu Quem foi o menino que o teu coração prendeu ?
Acorda, menina linda Anda brincar Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar Acorda, menina linda Vem oferecer O teu sorriso ao dia Que acabou de nascer
Anda a ver o gato vadio À caça do pássaro cantor Vem respirar o perfume Das amendoeiras em flor Salta da cama Anda viver, meu amor
Acorda, menina linda Vem oferecer O teu sorriso ao dia Que acabou de nascer
Quer eu queira quer não queira Esta cidade Há-de ser uma fronteira E a verdade Cada vez menos Cada vez menos Verdadeira
Quer eu queira Quer não queira No meio desta liberdade Filhos da puta Sem razão E sem sentido No meio da rua Nua crua e bruta Eu luto sempre do outro lado da luta
A polícia já tem o meu nome Minha foto está no ficheiro Porque eu não me rendo porque eu não me vendo Nem por ideais Nem por dinheiro E como eu sou e quero ser sempre assim Um rio que corre sem princípio nem fim O poder podre dos homens normais Está a tentar dar cabo de mim Cabo de mim
Tiveste gente de muita coragem E acreditaste na tua mensagem Foste ganhando terreno E foste perdendo a memória
Já tinhas meio mundo na mão Quiseste impor a tua religião E acabaste por perder a liberdade A caminho da glória
Ai, Portugal, Portugal De que é que tu estás à espera? Tens um pé numa galera E outro no fundo do mar Ai, Portugal, Portugal Enquanto ficares à espera Ninguém te pode ajudar
Tiveste muita carta para bater Quem joga deve aprender a perder Que a sorte nunca vem só Quando bate à nossa porta
Esbanjaste muita vida nas apostas E agora trazes o desgosto às costas Não se pode estar direito Quando se tem a espinha torta
Ai, Portugal, Portugal De que é que tu estás à espera? Tens um pé numa galera E outro no fundo do mar Ai, Portugal, Portugal Enquanto ficares à espera Ninguém te pode ajudar
Fizeste cegos de quem olhos tinha Quiseste pôr toda a gente na linha Trocaste a alma e o coração Pela ponta das tuas lanças
Difamaste quem verdades dizia Confundiste amor com pornografia E depois perdeste o gosto De brincar com as tuas crianças
Ai, Portugal, Portugal De que é que tu estás à espera? Tens um pé numa galera E outro no fundo do mar Ai, Portugal, Portugal Enquanto ficares à espera Ninguém te pode ajudar
Ai, Portugal, Portugal De que é que tu estás à espera? Tens um pé numa galera E outro no fundo do mar Ai, Portugal, Portugal Enquanto ficares à espera Ninguém te pode ajudar
olá
sempre apanhaste o tal comboio
eu já perdi dois ou tres
entre o ócio e as esquinas
ganhei o vicio da estrada
neste outra encruzilhada
talvez agora a coisa dé
o passado foi á história
cá estamos nós outra vez
conheço a tua cara
mas não sei o teu nome
escrevo já aqui
nao sei o qué arroba ponto com
eu vou-te reencontrar
noutro bar de estação
ou talvez quando perder mais um avião
o barco vai de saida
tu estás tão bronzeada
é tão bom ver-te assim
ardendo tão queimada
eu quero reencontrar-te
noutra esquina qualquer
sem saber o teu nome
se ainda és mulher
quero reconhecer-te
e beber um café
dizer-te de onde venho
e perguntar-te porque
sorrir-te cá do fundo
e subir os degraus
eu quero dar-te um beijo
a cinquenta e tal graus (2x)
sempre apanhaste o tal comboio
eu já perdi dois ou tres
entre o osseo e as esquinas
ganhei o vicio da estrada
neste outra encruzilhada
talvez agora a coisa dé
o passado foi á história
cá estamos nós outra vez
cá estamos nós outra vez...
Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar. Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra, no fundo p´ra te merecer recebe-me bem, não desencantes os meus passos faz de mim o teu herói, não quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo o que não vivi, hei-de inventar contigo sei que não sei, às vezes entender o teu olhar mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal recebe esta pomba que não está armadilhada foi comprada, foi roubada, seja como for. Eu venho do nada porque arrasei o que não quis em nome da estrada onde só quero ser feliz enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo sei que não sei, às vezes entender o teu olhar mas quero-te bem, encosta-te a mim